IFRS é ponte para novos tempos
O primeiro ponto a ser ressaltado é que 90% das empresas brasileiras se encaixam neste perfil.
Uma  nova era se anuncia para a contabilidade brasileira. Em dezembro de  2009, o Conselho Federal de Contabilidade emitiu uma resolução  estabelecendo um novo padrão contábil para as empresas que não estavam  enquadradas na Nova Lei das S.A. (11.638/07).
Com este novo  pronunciamento, chega a vez das pequenas e médias empresas de  harmonizarem seus balanços com as normas internacionais (IFRS).
Se  a implantação do IFRS nas grandes companhias não causou os transtornos  previstos há dois anos, o mesmo não deve ocorrer com as pequenas e  médias.
O primeiro ponto a ser ressaltado é que 90% das empresas  brasileiras se encaixam neste perfil.
Também não é demais lembrar  que elas são responsáveis por 60% do total de pessoas empregadas no  País e por 20% do PIB. Ou seja, a abrangência e o impacto são  imensuráveis.
O IFRS para Pequenas e Médias Empresas conta com  230 páginas, apenas 10% do destinado às grandes companhias. A adoção não  é obrigatória, mas pode trazer inúmeros benefícios às empresas. A  conversão proporcionará a oportunidade de remodelar os negócios com mais  transparência para o mercado e até instituir índices de desempenho.
Os  níveis de transparência serão substancialmente maiores, pois os  balanços tornarão pública a real saúde financeira e patrimonial das  empresas. Na realidade atual eles são apenas fiscais, portanto não  mostram as finanças da empresa para o mercado.
Ao elaborar um  balanço societário e passar por uma auditoria, os empresários já vão  criando uma cultura de transparência e de governança, o primeiro passo  para um crescimento sustentável.
Um balanço dentro dessas regras  valida a transparência da companhia, o que hoje é instrumento  importantíssimo na busca de parceiros e de crédito.
Temos no  Brasil um universo de 400 mil contadores que terão de se adaptar aos  novos tempos. É, sem dúvida nenhuma, um desafio de tirar o fôlego, e  certamente o maior do mundo empresarial em 2010.
A adoção das  Normas Internacionais de Relatórios Financeiros não é meramente um  exercício técnico que envolve o reordenamento de informações e  reclassificações nas demonstrações contábeis.
A conversão irá  desafiar os fundamentos de um modelo de negócios até então existente nas  pequenas e médias empresas. Será uma oportunidade ímpar de reexaminar a  sua administração através da maneira de reportar os seus gerenciamentos  internos.
Isso afetará a maneira como as empresas se apresentam  ao mercado. Quem não o fizer, ficará preso em um mundo antigo. Claro que  isso aumentará as despesas, mas por outro lado reduzirá a já conhecida  fragilidade das pequenas e médias companhias. Gasta-se mais, mas também  se ganha em credibilidade. Isso facilitará, e diminuirá custos de um  financiamento, por exemplo.
Os investidores estrangeiros prezam  muito a contabilidade. Estar adaptado a estes padrões ajudará a atrair  parcerias, joint ventures e fundos de private equity, por exemplo.  Demonstrações contábeis bem elaboradas e que trazem informações  importantes servem como base para a tomada de decisões por bancos,  futuros sócios, governo etc.
É um desafio e tanto. Diferentemente  do que ocorre com o IFRS para as grandes companhias, ninguém está  obrigado a embarcar nessa. Mas quem insistir em ficar estagnado no tempo  poderá perder o bonde da história.
O mesmo serve para os  contadores e auditores. Neste caso, a atualização é mais do que  obrigatória: é uma questão de sobrevivência.
Passada esta  transição, o Brasil estará em outro patamar.
Nossas tão valentes  pequenas e médias empresas estarão com os alicerces prontos para  sustentar um avanço da economia e grandes taxas de crescimento. A  adaptação pode ser uma fase difícil, mas é necessário atravessá-la, pois  o pote de ouro está do outro lado dessa ponte.